Olha só! Mais uma música para você descobrir o erro! E aí? É capaz de perceber o que tem de errado com a canção?
Olhando assim, parece fácil, não é? O desvio está bem aparente e nós, geralmente, aprendemos essas regrinhas na escola. Porém, não é tão simples assim!
Existem algumas ocasiões em que os desvios nas músicas vão muito além da licença poética por comodidade do ritmo, ou do canto – eles estão lá para afrontar e criticar! Consegue imaginar o porquê desse erro tão chamativo? Então vamos descobrir!
A nossa música hoje é Inútil do Ultraje a Rigor.
Primeiro vamos entender o que não está de acordo com as regras:
A gente somos inútil! |Inútil, a gente somos inútil.
Essa famosa música do Ultraje a Rigor apresenta uma ocorrência de desvio da norma padrão da Língua Portuguesa.
Como você pode perceber, a concordância verbal não está adequada. Na regra geral, o verbo deve concordar em número (singular ou plural) e pessoa (1ª, 2ª ou 3ª) com o sujeito da frase. Como nos exemplos:
Ele adora passear pelo Rio. (3ª pessoa do singular)
Eles adoram passear pelo Rio. (3ª pessoa do plural)
Eu comi o bolo que estava na mesa. (1ª pessoa do singular)
Nós comemos o bolo que estava na mesa. (1ª pessoa do plural)
Quando o sujeito do período em questão for composto, ou seja, quando houver mais de um núcleo, o verbo deve ser flexionado no plural para concordar com esse sujeito. Por exemplo:
Juliana e Thiago irão à praia neste final de semana.
Camelo, Gorila e Cavalo são animais herbívoros.
A concordância verbal, portanto, acontece quando se observa quem é o sujeito do período e se analisa se ele é simples ou se é composto.
Na canção aqui apresentada, a oração “A gente somos inútil” caracteriza um exemplo de sujeito coletivo, no qual um único substantivo remete à ideia de pluralidade. “A gente” tem o mesmo valor semântico de “nós”: eu e mais um. Entretanto, a concordância deve ser mantida no singular, pois o sujeito só tem um núcleo.
Assim, a maneira mais adequada à norma padrão da língua seria “a gente é inútil”.
Voltamos a repetir, porém, que na musicalidade são permitidos alguns desvios propositais que visam garantir a sonoridade e o ritmo, mas a questão aqui é outra.
Chegamos ao nosso caso especial de licença poética! Algumas vezes, como provavelmente é o caso dessa canção, o desvio tem função interpretativa. Os erros de concordância, aqui, são marcas de um de público esquecido socialmente tomando o seu lugar de fala. A ideia desse desvio, portanto, é apontar criticamente a falha do Estado para com esse grupo.
Viu só como a nossa língua, de acordo com a norma padrão ou não, é capaz de dizer tanto com tão pouco?
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Temos muitas outras músicas para você!
Você gosta de ditados? Então, divirta-se com nossos ditados e aprenda aquelas palavrinhas difíceis!
Colaborou Luana Magalhães, graduanda em Letras